Albertina Ribeiro está há quase cinco décadas à frente da “Az dos Livros”, conheceu aí o marido, tinha apenas 19 anos. Costureira na altura, por ali passava, na zona da Baixa, para comprar, acima de tudo, revistas de costura. Tem hoje 68 anos. São as histórias dela que fazem a história de um alfarrabista, quem se dedica ao negócio dos livros antigos. Há quem ignore esta profissão que apareceu no século XVI, a partir das primeiras feiras-do-livro. Mas para quem gosta de ler, entrar em sebos é entrar num tesouro. Autênticas bibliotecas, estas lojas costumam ser frequentadas por curiosos, estudiosos e coleccionadores.
É aqui que encontram raridades, as primeiras edições e livros não reeditados. Os preços nestes espaços têm a vantagem de ser acessíveis a todas as bolsas. É esta a vida de Albertina. Quase sempre assim o foi, com quase certeza de que assim será até ao fim. Ainda o dia não vai a meio, e já mostra sinais de cansaço. São, afinal, quase 50 anos como alfarrabista, numa loja tímida que vive por trás da Estação do Rossio. (http://g.co/maps/7kh97). Rodeada de livros, naquela que se tornou a sua segunda casa.
Diz sentir-se bem e confortável. Para ela os livros são uma companhia sem preço, embora não tenha uma grande paixão pelos mesmos. A livraria está na família há três gerações. Albertina tem a sorte de ter a filha a trabalhar com ela, mas está certa que esta não vai dar continuação ao negócio. Uma profissão viva num mundo em constante mudança.
Uma profissão viva num mundo em constante mudança
O dia está quente para um normal dia de Março, ainda Inverno. Moradores e turistas refrescam-se nas esplanadas em frente à loja, o barulho faz adivinhar o corrupio das ruas. Albertina sentada numa cadeira junto a montra recorda os dias em que não tinha mãos a medir para atender tantos clientes. Hoje, põe as culpas na Internet, diz que lhe “roubou” os leitores.
Poucos são os alfarrabistas que têm sobrevivido, muitos já fecharam portas, outros mantêm-se abertos enfrentando diariamente grandes dificuldades pela desertificação do centro da cidade. Apesar da falta de tempo, dos hábitos e costumes da população, há quem não deixe de ser fiel à loja de Albertina. Há quem passe por lá só para tocar nos livros ou sentir o cheiro a papel velho. Os livros mais procurados pelos turistas são os de Fernando Pessoa.
A livraria é também um depósito de confiança. Há mesmo vizinhos que a usam como caixa de correio. Albertina já perdeu a conta de quantas encomendas os carteiros por lá deixaram. No fim do dia, tranca a porta e despede-se de mais um dia. Os livros, por ali ficam, adormecidos, mergulhados no silêncio e no escuro da loja, com todas as histórias que guardam em si.
Encontre o Alfarrabista mais perto de si em: http://bibliomanias.no.sapo.pt/alfalist.htm
Mariana Cardoso e Mafalda Pessanha
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