terça-feira, 8 de maio de 2012

Essência do Jornalismo




Apaixonei-me pelo jornalismo já lá vão uns aninhos... E, tal como todas as paixões, esta surgiu de repente e sem pré aviso. Estava na flor da adolescência e, de um dia para o outro, resolvi levar umas coisas que tinha escrito a um jornal da terrinha. "Nunca vão ser publicadas" - pensei eu. Estava enganada. Publicaram as minhas crónicas e uma semana depois chamaram-me para fazer a cobertura do carnaval infantil da cidade. Fiquei apavorada. Nunca tinha feito nada, não tinha qualquer experiência. Mesmo assim, não podia recusar. E de um dia para o outro lá estava eu, aquela que sempre quis ser veterinária, sentada em frente ao computador a tentar escrever a notícia do Carnaval para publicar na edição da semana seguinte.

E foi assim, foi assim que veio, e veio para ficar, esta minha paixão.
Gosto do jornalismo não porque quero fama ou porque quero aparecer na televisão. Não sou coscuvilheira e também não estou atrás de um bom ordenado porque, meus amigos, se estivesse de certeza que não escolhia o jornalismo...

Muitos apaixonados não conseguem justificar aquilo que sentem. No meu caso é diferente... Gosto de ser jornalista porque gosto de contar histórias às pessoas. Sim, porque um jornalista é isso mesmo: um belo contador de histórias. E o melhor de tudo, aquilo que melhor sabe, é sentir que a nossa história foi bem contada. É sentir que as pessoas falam da nossa história, que a passam de boca em boca. É sentir que a nossa história pode não ter mudado o Mundo mas mudou, certamente, a vida de alguém.

"Ser jornalista é ficar com partes da vida das pessoas e passar essas partes aos outros" - disseram-me isto esta semana e esta é, talvez, uma das melhores caracterizações de jornalismo que ouvi até hoje. A essência do jornalismo é precisamente esta, o jornalismo é, sobretudo, um trabalho humano que nos envolve a todos.

E quando nos acusam de só publicar desgraças ou mentiras... não concordo. Nenhum jornalista tem prazer em noticiar acidentes ou catástrofes naturais. Nenhum jornalista publica histórias falsas só para vender. Entenda-se que o meu "nenhum" só inclui: todos os jornalistas que seguem o código ético e deontológico mas que, mais do que isso, têm bom senso e carácter. Sim, porque sei bem que, infelizmente, andam por ai muitas pessoazinhas com carteira de jornalista que deviam era ter vergonha e deixar a profissão. Esses são as ervas daninhas deste meio. Minam e degradam a imagem nobre do jornalismo. É pena, mas ervas daninhas crescem em todo o lado e não há veneno que lhes faça frente.

O trabalho de um jornalista não passa por descobrir, sempre, a verdade total. Muitas vezes só conseguimos descobrir parte da verdade, uma verdade. Não importa, se nos esforçarmos por dar o máximo de verdade naquilo que fazemos as coisas vão correr bem. Somos os mensageiros, somos os portadores de uma história que queremos que os outros recontem.
"Somos uma janela do Mundo para as pessoas que vêm, ouvem e lêem através de nós". É isto que somos ou, pelo menos, deveríamos ser.

Para além disso, como cidadãos mas mais ainda como jornalistas, carregamos uma responsabilidade social. Não podemos ser alheios aos sentimentos dos outros, somos seres interessados por natureza.

E esse interesse pelas pessoas alarga-se a outros campos. Somos seres interessados por tudo. Conhecedores da língua, da história, da política, da arte, da música e do cinema. Da economia, das ciências e da sociedade. Acumulamos conhecimento porque essa é a base do jornalismo.

É bom que saibam que, para os que já se apaixonaram pela profissão, não há cura. Quando o "bichinho" do jornalismo se instala não há remédio que o faça sair. E, mesmo que houvesse, duvido que algum jornalista o quisesse sequer experimentar. Afinal, gostamos de ser assim. Gostamos de não parar. Mesmo em dias de folga ou nas férias, estamos atentos a tudo e a todos, sempre à procura de uma boa história para contar, de algo que possa acabar em notícia. Somos jornalistas a tempo inteiro, disso não restam dúvidas.

E não, "não existem pequenas histórias, o que existem é jornalistas pequenos". Mais uma grande verdade... E para não nos tornarmos demasiado pequenos precisamos de nos superar a cada dia que passa. Mais do que querer fazer melhor... temos de FAZER MELHOR todos os dias. É uma competição individual constante. "O que fazemos hoje é o mais importante de tudo mas amanhã é lixo".

Não, isto não é tudo um mar de rosas. Este é um "mundo cão", se calhar muito pior do que a maioria. É o mundo das rivalidades, das falsidades e das cunhas. É o mundo da ganância e do negócio. É o mundo do "eu faço qualquer coisa para subir"...

No entanto, meus amigos, talvez por ainda estar demasiado "verde", continuo a acreditar na essência do jornalismo. Continuo a acreditar que ainda existem bons jornalistas tão cegos e apaixonados quanto eu. Continuo a acreditar que uma história minha não muda o Mundo, mas muda, de certeza, a vida de alguém. Continuo a acreditar que, com as palavras dos jornalistas, as pessoas não ficam paradas, as pessoas agem e lutam pelas causas em que acreditam.

E... façam-me um favor: deixem-me continuar a acreditar. Deixem-me continuar a sonhar. Afinal, todos temos o direito de correr atrás de um sonho. E sempre ouvi dizer que "Deus quer, o Homem sonha e a Obra nasce"... Para mim, Deus já quis e eu já sonho... e vou sonhar toda a vida, até que a obra nasça de vez.

Patrícia Pinho da Silva

"Se não conseguires chegar à lua... estica o braço e apanha uma estrela"





Tenho comprovada uma única verdade na vida: tudo aquilo que nos dá mais trabalho a conseguir é, também, aquilo que, no fim, nos dá verdadeiro gozo e prazer.

Digam-me a que sabe a laranja comprada no supermercado, em comparação com aquela que apanhamos depois de subir a uma árvore? E quão diferente é o leite que acaba de sair da vaca daquele que fica empacotado durante meses? Como é ver uma cidade desde o alto de um miradouro... será tão fascinante como olhá-la par a par com as ruas atulhadas de carros, fumos, gentes e ruídos?

Claro que não. Sempre e em tudo na vida devemos lutar por chegar o mais alto possível.
Esta é a teoria, mais difícil é pô-la em prática. É essa prática que luto por desenvolver  a cada passo que dou na vida.

Sou uma afortunada. Nunca tive dúvidas daquilo que quero fazer na vida. Quero contar histórias às pessoas. Mostrar-lhes outras vidas, abrir-lhes as janelas e as portas... e fazê-las ver o Mundo. Gosto de trabalhar com gentes do campo e da cidade, ricas ou pobres, com ou sem emprego. Não importa, grande ou pequena, todas têm uma história para contar. Cabe-me a mim descobri-la e transformar um pormenor em algo que valha, realmente, a pena ser visto e ouvido, saboreado e comentado. Que troquem o dito por não dito, que contem o (meu) conto e acrescentem um ponto, que me chamem nomes ou que me homenageiem,  não importa. Não o faço para que gostem de mim, apenas quero que falem da minha história. Quero que a passem de boca em boca. Se isso acontecer, deixa de ser só minha e passa a ser de toda a gente... é isso que eu quero.

Quero levar a minha história, ou as minhas histórias, o mais alto possível. E, se na subida, encontrar alguém que precise de ajuda... Não vou continuar como se nada fosse, não vou ser arrogante ou egoísta. Vou parar e esticar a mão, é o mínimo que posso fazer. Não podemos ser alheios aos sentimentos dos outros, somos seres interessados por natureza. E interessamo-nos pelo nada e pelo tudo, é esta a lógica.

"Se não conseguires chegar até à lua... estica o braço e apanha uma estrela". Ouvi isto há uns dias atrás dito por um homem com uma grande história. Pobre e com três filhos para criar mas que, mesmo assim, ajuda toda a gente do bairro onde vive. E toda a gente é mesmo TODA a gente. Cá para mim, este homem já tem uma colecção de estrelas...

Isto é jornalismo, é cidadania e é saber viver. Sim, porque só vive quem sabe olhar para a vida com estes olhos, quem não o faz... limita-se a existir.

Ser jornalista não é, de todo, ser perfeito. Mas é lutar pela perfeição a cada dia que passa. É por isso que não paramos de estudar, de ler livros e jornais, de ouvir as rádios e ver televisão.

 Amamos a vida, e é só.

Patrícia Pinho da Silva