Apaixonei-me pelo jornalismo já lá vão uns aninhos... E, tal
como todas as paixões, esta surgiu de repente e sem pré aviso. Estava na flor
da adolescência e, de um dia para o outro, resolvi levar umas coisas que tinha
escrito a um jornal da terrinha. "Nunca vão ser publicadas" - pensei
eu. Estava enganada. Publicaram as minhas crónicas e uma semana depois
chamaram-me para fazer a cobertura do carnaval infantil da cidade. Fiquei
apavorada. Nunca tinha feito nada, não tinha qualquer experiência. Mesmo assim,
não podia recusar. E de um dia para o outro lá estava eu, aquela que sempre
quis ser veterinária, sentada em frente ao computador a tentar escrever a
notícia do Carnaval para publicar na edição da semana seguinte.
E foi assim, foi assim que veio, e veio para ficar, esta
minha paixão.
Gosto do jornalismo não porque quero fama ou porque quero
aparecer na televisão. Não sou coscuvilheira e também não estou atrás de um bom
ordenado porque, meus amigos, se estivesse de certeza que não escolhia o
jornalismo...
Muitos apaixonados não conseguem justificar aquilo que
sentem. No meu caso é diferente... Gosto de ser jornalista porque gosto de
contar histórias às pessoas. Sim, porque um jornalista é isso mesmo: um belo
contador de histórias. E o melhor de tudo, aquilo que melhor sabe, é sentir que
a nossa história foi bem contada. É sentir que as pessoas falam da nossa
história, que a passam de boca em boca. É sentir que a nossa história pode não
ter mudado o Mundo mas mudou, certamente, a vida de alguém.
"Ser jornalista é ficar com partes da vida das pessoas e
passar essas partes aos outros" - disseram-me isto esta semana e esta é,
talvez, uma das melhores caracterizações de jornalismo que ouvi até hoje. A
essência do jornalismo é precisamente esta, o jornalismo é, sobretudo, um
trabalho humano que nos envolve a todos.
E quando nos acusam de só publicar desgraças ou mentiras...
não concordo. Nenhum jornalista tem prazer em noticiar acidentes ou catástrofes
naturais. Nenhum jornalista publica histórias falsas só para vender. Entenda-se
que o meu "nenhum" só inclui: todos os jornalistas que seguem o
código ético e deontológico mas que, mais do que isso, têm bom senso e carácter.
Sim, porque sei bem que, infelizmente, andam por ai muitas pessoazinhas com
carteira de jornalista que deviam era ter vergonha e deixar a profissão. Esses
são as ervas daninhas deste meio. Minam e degradam a imagem nobre do
jornalismo. É pena, mas ervas daninhas crescem em todo o lado e não há veneno
que lhes faça frente.
O trabalho de um jornalista não passa por descobrir, sempre,
a verdade total. Muitas vezes só conseguimos descobrir parte da verdade, uma
verdade. Não importa, se nos esforçarmos por dar o máximo de verdade naquilo
que fazemos as coisas vão correr bem. Somos os mensageiros, somos os portadores
de uma história que queremos que os outros recontem.
"Somos uma janela do Mundo para as pessoas que vêm,
ouvem e lêem através de nós". É isto que somos ou, pelo menos, deveríamos
ser.
Para além disso, como cidadãos mas mais ainda como
jornalistas, carregamos uma responsabilidade social. Não podemos ser alheios
aos sentimentos dos outros, somos seres interessados por natureza.
E esse interesse pelas pessoas
alarga-se a outros campos. Somos seres interessados por tudo. Conhecedores da
língua, da história, da política, da arte, da música e do cinema. Da economia,
das ciências e da sociedade. Acumulamos conhecimento porque essa é a base do
jornalismo.
É bom que saibam que, para os que
já se apaixonaram pela profissão, não há cura. Quando o "bichinho" do
jornalismo se instala não há remédio que o faça sair. E, mesmo que houvesse,
duvido que algum jornalista o quisesse sequer experimentar. Afinal, gostamos de
ser assim. Gostamos de não parar. Mesmo em dias de folga ou nas férias, estamos
atentos a tudo e a todos, sempre à procura de uma boa história para contar, de
algo que possa acabar em notícia. Somos jornalistas a tempo inteiro, disso não
restam dúvidas.
E não, "não existem pequenas histórias,
o que existem é jornalistas pequenos". Mais uma grande verdade... E para
não nos tornarmos demasiado pequenos precisamos de nos superar a cada dia que
passa. Mais do que querer fazer melhor... temos de FAZER MELHOR todos os dias.
É uma competição individual constante. "O que fazemos hoje é o mais
importante de tudo mas amanhã é lixo".
Não, isto não é tudo um mar de
rosas. Este é um "mundo cão", se calhar muito pior do que a maioria.
É o mundo das rivalidades, das falsidades e das cunhas. É o mundo da ganância e
do negócio. É o mundo do "eu faço qualquer coisa para subir"...
No entanto, meus amigos, talvez por
ainda estar demasiado "verde", continuo a acreditar na essência do
jornalismo. Continuo a acreditar que ainda existem bons jornalistas tão cegos e
apaixonados quanto eu. Continuo a acreditar que uma história minha não muda o
Mundo, mas muda, de certeza, a vida de alguém. Continuo a acreditar que, com as
palavras dos jornalistas, as pessoas não ficam paradas, as pessoas agem e lutam
pelas causas em que acreditam.
E... façam-me um favor: deixem-me
continuar a acreditar. Deixem-me continuar a sonhar. Afinal, todos temos o
direito de correr atrás de um sonho. E sempre ouvi dizer que "Deus quer, o
Homem sonha e a Obra nasce"... Para mim, Deus já quis e eu já sonho... e
vou sonhar toda a vida, até que a obra nasça de vez.
Patrícia Pinho da Silva